Queridos
leitores, para aqueles que desejam ler tudo de uma vez, segue abaixo a
versão integral da nossa Lição 4 que foi publicada em posts separados dias
atrás. Se gostaram desta lição por favor compartilhem com seus amigos e nos
deixem um comentário! ;)
INTRODUÇÃO:
Com muita
alegria retomamos nossas lições aqui na página, e antes de mais nada gostaria
de agradecer a cada um de vocês que curtem e seguem nossa página e nosso blog,
enviando comentários e emails!
Foi isso
principalmente, que nos motivou a voltar a publicar logo! Na última vez que
postamos, 3 anos atrás, tínhamos cerca de 200 seguidores, algo que já era
motivo de grande honra para mim, e de lá pra cá fiquei muito surpreendido de
ver a página ganhar mas de dez vezes mais curtidas e o nosso blog bater a marca
de 65 mil acessos, com apenas 3 lições publicadas até agora!Estou falando isso
não por orgulho próprio nem nada disso, e sim para dizer que foi essa
movimentação incessante de cada um de vocês que finalmente me trouxe de
volta a publicar hoje!
Me fez perceber
que este trabalho que antes era apenas uma forma pessoal de expressar minha
gratidão a ao autor, fazia também sentido pra muitas outras pessoas que sentiam
falta das novas lições. Apesar da demora que se deu por conta de afazeres
profissionais, nunca pensei em parar as lições e nos últimos anos segui
pensando nelas sempre que podia, imaginando como seriam os outros capítulos, e
aproveitei também para ler outras obras do Antoine e pesquisar mais de sua
biografia.
Desde o começo
decidi fazer desta homenagem um trabalho muito inspirado, ou seja, eu só
publicaria quando realmente me sentisse conectado ao que julgo ser o espírito
da obra, algo que demorou pra voltar a ocorrer, e apesar do fato da primeira
versão do capitulo 4 estar pronta desde 2018, eu só terminei este
capitulo neste ano. A minha ideia inicial era publicar pelos menos 3 novas
lições juntas para assim dar mais material a vocês lerem, mas como a Lição 4
ficou bem grande e pude dividi-la em 3 partes, decidi antecipá-la logo. Já
estou trabalhando na Lição 5 também, e espero poder trazê-la aqui pra vocês
dentro de algumas poucas semanas.
Antes de
terminar, é importante destacar que terminei de escrever a primeira parte desta
4ª lição quando a pandemia estava no auge aqui no Brasil e por isso, os temas
que mencionei ali, como os trabalhadores essenciais, o isolamento total com a
proibição de frequentar lugares públicos etc, já poderão soar datados
para alguns leitores a esta altura.
Mas mesmo assim
decidi não editar aqueles trechos por dois motivos principais: um porque a
questão de valorizar quem atuou na linha de frente da covid deveria ficar para
sempre em nossas memórias, e segundo, para homenagear aqueles de nós que apesar
de assistirem todos ao redor relaxando a quarentena, se divertindo e lotando as
praias e baladas, seguem ainda em isolamento voluntário por amor e respeito ao
próximo, e que com muito sacrifício, seguem afastados e com saudade daqueles
lugares e pessoas que lhe são caros.
Se você é uma dessas raras pessoas que seguem valorizando a empatia e a responsabilidade acima da diversão, saiba que, com gratidão, lhe dedico este novo capítulo! ;)
Parte 1:
DAS ORIGENS, DOS NÚMEROS E DAQUILO QUE REALMENTE IMPORTA NA VIDA…
Uma importante
questão que abre este capítulo e que já tinha sido apresentada no capítulo
precedente do livro, diz respeito a uma importante característica do
principezinho: Ele é um extraterrestre!
Isso poderia ter
muitos significados, mas eu gosto de pensar em dois em especial: o fato de que
a pureza, a doçura e a inocência do pequeno príncipe são algo literalmente de
outro mundo, algo raro, sutil, que não se vê por aí... Seu jeito especial, sua
graça e sensibilidade, são tão raras em nosso mundo que não restou alternativa
ao autor que não a de colocar sua origem em outras esferas....
O segundo
significado, que já tinha sido esboçado na análise dos primeiros capítulos, é a
hipótese de ser o pequeno príncipe um reflexo, ou uma projeção da Alma e psique
de Antoine de Saint-Exupéry, e que ele magistralmente personificou no
principezinho.
E assim, o fato
dele ser um extraterrestre poderia ser melhor entendido se lembrarmos algo que
o grande psicólogo suíço C.G. Jung dizia a respeito da aparição de óvnis e
casos semelhantes. Para Jung, essas aparições e as questões relacionadas eram
possivelmente uma manifestação profunda do inconsciente coletivo, que diante de
uma realidade difícil, projetava no céu figuras circulares, esféricas e
ordeiras, que transmitiriam mensagem de uma “ordem superior”.
Tal como a
improvável e repentina aparição de nosso principezinho no meio do deserto do
Saara, essas aparições espetaculares de extraterrestres no céu, segundo Jung,
refletem a mentalidade daqueles que as observaram, a sua busca por ordem e
sentido naquela fase de suas vidas. O príncipe, e sua candura, seriam o retrato
anímico daquela fase da vida de Antoine...
Agora falando
diretamente sobre o enredo deste quarto capítulo, o autor de forma bastante
incisiva renova suas críticas aos padrões ocidentais, e talvez de um modo mais
francamente sociológico.
Ao narrar como o
asteróide de origem do pequeno príncipe foi descoberto por um astrônomo turco,
ele enfatiza o fato de que ele recebeu nenhum crédito por sua descoberta apenas
por causa das roupas típicas que usava! E que ao trocar suas roupas por outras
à moda ocidental, graças à interferência de um ditador turco que obrigou as
pessoas a abandonarem suas roupas de origem para copiarem europeus (outra
crítica velada, mas incisiva ao colonialismo europeu) finalmente foi levado à
sério em sua descoberta: “As pessoas grandes são assim” diz o autor no
livro...E veja que estamos falando de uma crítica à ostentação ocidental feita
ainda nos começos do século passado, quando nem mesmo se sonhava com o mundo da
ostentação máxima em redes sociais, instagram, facebook, etc...
Reforçando ainda
mais essas críticas, Logo em seguida, Antoine faz uma nova crítica social que
ainda permanece atual hoje em dia, ao nosso materialismo e apego a
superficialidade, algo que segundo ele se traduz pelo nosso amor aos
números:
“As pessoas grandes
adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se
informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz?
Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?" Mas
perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto
ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às
pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na
janela, pombas no telhado..." elas não conseguem, de modo nenhum, fazer
uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de
seiscentos contos". Então elas exclamam: "Que beleza!"
E por falar em
números, se voltarmos ao exemplo da ostentação nas redes sociais, hoje em dia
uma pessoa se torna celebridade pelo número de seguidores que ela tem nestas
redes. Falamos então que esta pessoa se tornou uma “influencer” pois tem
milhares de seguidores no instagram, e isso virou até manchete: "A atriz
tal, que é namorada de jogador tal, atingiu a marca de tantos milhões de seguidores!”
E essa notícia vira então destaque! Uau, ela tem milhões de seguidores, deve
ser alguém importante né??
E assim vai… Não
há nada de intrinsecamente errado nisso, não acredito que Antoine fazia um
julgamento moral quando falou dos números e da casa, no trecho acima. E
tampouco nós aqui criticamos "influencer" e as pessoas que gostam
deles.
É uma realidade
atual, e se isso ocorre assim é porque é deste modo que se distribuem os afetos
atuais, e é essa distribuição de afetos esquisita, essa valorização do que
talvez não merecesse tanto valor, que se critica aqui e no livro, e não as
pessoas: por que nós valorizamos números e atributos objetivos como beleza e
posses e não atributos subjetivos como a generosidade, o altruísmo, o jeito de
ser? Por que damos destaque à roupa ou ao novo carro da celebridade e não
aplaudimos o bombeiro que salva as florestas das chamas, ou o gari que sob sol,
chuva (e pandemia) trabalha para deixar nossas ruas limpas? Quem são essas
celebridades anônimas? Quantos seguidores elas têm?
Como falei acima
na postagem de introdução deste capítulo, foi uma coincidência oportuna este
capítulo estar sendo publicado durante a pandemia, pois a crítica ao mesmo
sutil e cáustica de Antoine soa muito atual, algo que ficará ainda mais
destacado no próximo capítulo.
Pois somente
agora, que nos vemos diante de uma pandemia, quando o planeta nos
obriga na marra a valorizarmos aquilo que é essencial. Só
agora, quando fomos obrigados, enxergamos e valorizamos aquilo que se considera
serviço essencial: Enfermeiros, médicos, entregadores, motoristas, frentistas,
veterinários, faxineiros, porteiros, e muitos e muitos outros profissionais,
que hoje estão ali na linha de frente, literalmente arriscando suas vidas para
NOS SERVIR, de maneira abnegada e corajosa, e que somente agora aprendemos a
dar o devido valor: foi necessária uma pandemia global para descobrirmos que os
milhões pagos ao jogador de futebol não têm o mesmo valor real que o trabalho
de um enfermeiro, que recebe poucas centenas de reais…
Não precisamos
nos alongar mais nesta reflexão, pois acho que a mensagem aqui já ficou bem
clara, e como falamos, a realidade está se impondo…
Para finalizar esta
1ª parte, não deixa der ser incrível notar que uma das mais famosas frases do
pequeno príncipe trata exatamente deste tema da essencialidade (frase esta que
será objeto de um profundo estudo mais adiante quando chegarmos no seu capítulo
próprio). Extrapolando propositadamente o significado original que Antoine deu
à frase, mas sendo fiel a sua crítica social já que no trecho acima ele também
fala do essencial, podemos nos adiantar um pouco na análise desta famosa frase
e pensar se O ESSENCIAL QUE É INVISÍVEL AOS OLHOS não se aplica também àquilo
que nós não sabemos valorizar devidamente.
Quais pessoas,
quais profissões, quais lugares que antes eram invisíveis para nós agora, por
causa da pandemia e seus perigos, não readquiriram significados? Quais lugares
que antes não valorizamos e que deixamos se tornarem invisíveis pelo hábito ou
por qualquer outro motivo, que agora, por conta quarentena readquiriram tanto
valor?
Para
exemplificar rapidamente, a praia, este lugar comum e banalizado do Brasil
nunca foi tão ardentemente desejado, nunca sentimos tanta falta do mar, que
apesar de estar tão perto para alguns, nunca esteve tão longe agora, que somos
proibidos de chegar perto dele… Claro que o mesmo vale para outros lugares onde
as restrições da pandemia nos impediram de ir... Quais parques, lagoas,
bibliotecas, lojas, que antes você, pelo hábito ou comodismo achava que
estariam ali para sempre te esperando agora você não poderá mais vê-los?
Será que estes
lugares então invisíveis pelo tédio agora serão vistos com novos olhos
renovados pela ausência e saudades?
PARTE 2:
SERÁ QUE ESCUTAREMOS A SUA RISADA?
No final da
primeira parte postada na quinta, falamos brevemente sobre como a pandemia fez
a gente refletir sobre o essencial que é invisível aos aos olhos, e retomando o
assunto, questionamos:
E as pessoas
essenciais que eram invisíveis? Quais destes invisíveis, no sentido de
ignorados por nós, agora são de extremo valor? Afinal, são Aqueles
trabalhadores mais humildes, ditos invisíveis, são justamente aqueles que nos
mantém vivos hoje em dia…
Agora que temos
o perigo real de perdermos alguém muito querido por nós, para doença, será que
lhe daremos mais valor?
Deixaremos de
prestar atenção e darmos curtidas vazias para a celebridade da internet e
passamos a valorizar aquela pessoa que está aqui, agora mesmo, do nosso lado?
Percebemos finalmente que não importa a quantidades de curtidas ou de
seguidores se a elas nós não cativarmos? (a famosa frase do livro,
“cativa-me”…)
Afinal, quantos
“seguidores” tinha o Pequeno Príncipe? Apenas um, a raposa, ou talvez dois, se
contarmos o próprio Antoine… Afinal, o pequeno príncipe nos ensina que mais
vale um único “seguidor” cativo do que milhões de falsos amigos, que apenas se
reduzem a números estéreis seguidos da letra K (fulano tem 50k de amigos e
seguidores)… É óbvio: A pergunta não é quantos são seus amigos, e sim: quantos
você realmente cativou, criou laços de coração?
Quantos você
atingiu a alma?
Quantos deles
são dignos da frase, “… serei para ti a única no mundo, e tú serás para
mim o único no mundo…"
Vou para por
aqui, pois este trecho é tema de outro capítulo do livro, e será provavelmente
o mais importante de nossas lições, pois como já falei em outros lugares, esta
parte do livro que envolve as relações de afeto do pequeno príncipe será
tratada com destaque mas no momento oportuno. Mas como o tema da essencialidade
e da amizade é o fio condutor de toda obra, estamos sempre esbarrando com ele
de uma ou outra maneira… Mas por ora, voltemos ao capítulo 4:
“A prova de que
o principezinho existia é que ele era encantador, que ele ria, e que ele queria
um carneiro…
Aqui, somo ainda
apresentados a uma frase curtíssima mas cheia de significados quase
metafísicos. Antoine diz que a maior prova de que o príncipe existia era que
“ele ria…” ah, que belo! É Tão pungente a beleza deste trecho que tenho
dificuldades para traduzir os significados que vejo nele! Ele existia apenas
porque RIA! Antoine aqui nos brinda com uma pérola filosófica, ao nos induzir
despropositadamente ao fato de que é o riso, e portanto, a alegria, o marco da
nossa existência! Só existe porque ri! Só vive porque está alegre! E ao
contrário, Se não ri, não vive, aquele que só lamúrias alimenta, já não existe,
e sim vegeta…
Portanto, agora
reveja seus afetos, refunde seus amores, resgate suas relações, olhe para quem
está perto, valorize quem sempre esteve ali do seu lado, que viu sua luz mesmo
quando você estava em profunda escuridão, ou ainda resgate o amor com aqueles
que ausentes a mostraram como lhe fazem falta, valorize as risadas daqueles que
você ama e daqueles que lhe amam…
Num momento
triste como estes de pandemia e milhares de famílias separadas pela morte,
perceba como você é sortudo, realmente abençoado, de estar aí presenciando as
gargalhadas daqueles que você ama, e é naquele momento sagrado, onde seu riso,
sua alegria, que ela lhe indica, magicamente, como é bom existir, ESTAR VIVO, e
VIVER AO SEU LADO… Portanto, seja grato pela vida, e repetindo o trecho mais
bonito deste capitulo 4 do livro, será que daremos valor a voz desta pessoa que
está hoje ao nosso lado? Valorizaremos seu toque, seu cheiro? Seu abraço, sua
presença?
“Qual é o som da
sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?"
A PAIXÃO DE
VIVER…
E ele queria um
carneiro:
“… Quando alguém
quer um carneiro, é porque existe”…
Da alegria e do
riso se extrai por consequência evidente o desejo: se estamos alegres, joviais
e risonhos nós estamos vivos, se estamos vivos é porque desejamos… De Platão a
Jung, passando por Nietzsche e Freud, a relação direta entre desejar e estar
vivo já foi descrita em verso e prosa e não há necessidade de nós também irmos
nessa direção. Basta dizer que o desejo, o querer, é este ‘pathos’, que
mobiliza a existência.
O contrário destes
“pathos” é o apathos, ou apatia, o estado de desalento onde não nos sentimos
vivos, de nada rimos e portanto nada mais desejamos… Como qualquer criança, o
nosso pequeno príncipe era encantador, era, alegre, ria, e tinha desejos
urgentes que tinha que ser satisfeitos imediatamente, caso contrário sua vida
parava até consegui-lo: “Me desenhe um carneiro!”
Então, se em
nossa vida de gente grande já não encontramos alegria e riso, e portanto
perdemos o rumo de nossa existência, talvez caiba perguntar a nossa criança
interior qual desejo urgente que lhe foi negado, o que lhe falta neste
instante?
Onde se perdeu
aquela coisa apaixonada que você ansiava instantaneamente para se sentir vivo e
alegre, como uma criança?
Quem lhe negou o
desenho do seu carneiro?
A quem você pode
pedi-lo hoje?
Parte 3:
O deslumbre no olhar e a essência da arte
Ainda sobre o tema da existência, poderíamos encerrar esta lição falando do angustiado tom que usa Antoine para encerrar este capítulo, e a sua tristeza apelando aos leitores que dêem a devida atenção ao seu livro e sua narrativa, e apelando para que acreditem em sua história e tenhamos a mentalidade inocente das crianças e não dos adultos que só crêem em números:
“É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes. Mas nós, nós que compreendemos a vida, nós não ligamos aos números! Gostaria de ter começado esta história à moda dos contos de fada. Teria gostado de dizer: "Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta pouco maior que ele, e que tinha necessidade de um amigo..." Para aqueles que compreendem a vida, isto pareceria sem dúvida muito mais verdadeiro. “
Como explicar o
apelo triste de Antoine neste trecho acima, sem trazermos de novo à baila a questão
da real existência do pequeno príncipe? É tentado dizermos que é uma obra de
ficção infantil, uma fábula apenas, e os indícios da biografia de Antoine
também endossam este ponto de vista e dos quais poderíamos falar em uma futura
postagem….
Mas lendo e relendo esta obra não posso deixar de me perguntar se de fato, literalmente, se ele não teve uma experiência mais concreta com o pequeno príncipe? Será que ele existiu? Nem é preciso dizer que para um artista, escritor ou poeta, seus personagens são muito, muito reais e existem de fato! E o mesmo vale para os seus leitores e os admiradores daquele artista. Vá dizer para um genial pintor que as imagens que ele traz para a terra não passam de ilusão? Diria ao escultor que sua obra é um nada, apenas um pedaço de pedra ? Experimente dizer para um fã de mangás ou de animes que seus personagens tão amados ou idolatrado não existem e portanto não merecem a devida importância...
O mundo da verdadeira arte é um mundo subjetivo e não objetivo. É antes um mundo de significados interiores e não de formas materiais! Vale dizer então, por outras palavras, é um mundo que funciona na dinâmica do sentimentos: aquilo existe, é real, se emociona, comove, inspira, enleva e enaltece… Arte…
E cabe acrescentar algo aqui: o olhar do verdadeiro artista é o mesmo olhar das crianças, um olhar repleto de DESLUMBRAMENTO... O Artista, como a criança, olha o mundo com encanto sempre renovado, observa um mundo como um lugar cheia de novidades e beleza oculta para retratar, é um parque de diversões que sempre esconde algo novo, uma nova luz para pintar, uma nova forma para esculpir, uma nova curva para desenhar, ou uma nova história para contar...
O olhar do artista é vivo, como das crianças, que enxergam em tudo uma brincadeira em potencial cheio de novidades incessantes, tal como os artistas enxergam sempre uma arte em potencial… Como anda este seu olhar? O que faz seus olhos brilharem? O mundo ainda consegue lhe encantar? Consegue focar sua luz na beleza invés da feiúra do mundo? As paisagens ainda lhe deslumbram? Existe algum lugar que só de ver você se alegra, ou que só de estar ali você se sente com vontade de correr, se divertir e saltar?
Mas, poesia à parte, o que quero discutir agora é o possível existência real mesmo -física- do pequeno príncipe... O tom que Antoine usa aqui é quase de um desabafo, e o jeito triste, quase deprimido, com que termina o capítulo. Tendo em vista a ode que este escritor sempre fez da honestidade e dos sentimentos, não consigo admitir que ele usou destas frases apenas como um recurso lírico para emocionar o leitor. Não, parece mesmo que ele quer nos dizer algo sobre a existência, verdadeira e real, do pequeno príncipe, como no trecho abaixo:
“Porque eu não gosto que leiam meu livro levianamente. Dá-me tanta tristeza narrar essas lembranças! Faz já seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui, é justamente porque não o quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigos. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números. Foi por causa disso que comprei uma caixa de tintas e alguns lápis também…” e termina dizendo..” Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci. “
Neste trecho então, Antoine retoma brevemente o tema do primeiro capítulo e do qual falamos bastante em nossas primeiras lições, ao enfatizar como a perda da imaginação infantil conduz a uma vida adulta infeliz. Merece destaque entretanto no destaque que ele deu a expressão artística de que falamos acima, quando menciona que comprou material para desenhar o príncipe e assim não mais esquecê-lo. O mundo seria um lugar muito mais belo se nós escutássemos nossos impulsos de expressão artística e não reprimíssemos tanto no nosso lado lúdico e infantil como fomos ensinados a fazer, lado esse que se pudesse, encheria o mundo de rabiscos e cores! Certa feita perguntaram a um Mestre o que deveria ser feito quando estivéssemos nos sentindo apáticos ou tendo um dia ruim e ele respondeu: “faça qualquer coisa que seja criativa. Não existe nada melhor para afastar o desânimo e a tristeza do que ativar, qualquer que seja o meio de expressão, o seu gênio criativo adormecido…”
E foi isso que Antoine fez, para nosso deleite. Tendo sido o principezinho real ou não, seja ele, uma figura que surgiu espontaneamente de dentro da sua alma como, talvez indicariam alguns trechos de sua biografia, ou tenha sido ele um Ser real que Antoine encontrou em sua experiência verídica de quando caiu no deserto; o fato é que pela graça de Antoine escutar seu lado artístico e de corajosamente arriscar desenhar e escrever pra gente esta história, o mundo se tornou um lugar mais belo e a literatura ganhou uma jóia inestimável! E assim, nós poderemos responder então ao angustiado espírito de Antoine quando disse no trecho acima ser muito triste esquecer um amigo. Poderíamos acalmá-lo, dizendo que seu pequeno amigo agora não é apenas inesquecível como também imortal: ele estará para sempre em nossos corações...
--- Fim da Lição 4 ---
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