Parte 3: O deslumbre no olhar e a essência da
arte
Ainda sobre o tema da existência, poderíamos
encerrar esta lição falando do angustiado tom que usa Antoine para encerrar
este capítulo, e a sua tristeza apelando aos leitores que dêem a devida atenção ao seu livro e sua
narrativa, e apelando para que acreditem em sua história e tenhamos a
mentalidade inocente das crianças e não dos adultos que só crêem em números:
“É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças devem ser muito
indulgentes com as pessoas grandes. Mas nós, nós que compreendemos a vida, nós
não ligamos aos números! Gostaria de ter começado esta história à moda dos
contos de fada. Teria gostado de dizer: "Era uma vez um pequeno príncipe
que habitava um planeta pouco maior que ele, e que tinha necessidade de um
amigo..." Para aqueles que compreendem a vida, isto pareceria sem dúvida
muito mais verdadeiro. “
Como explicar o apelo triste de Antoine
neste trecho acima, sem trazermos de novo à baila a questão da real existência
do pequeno príncipe? É tentado dizermos que é uma obra de ficção infantil, uma
fábula apenas, e os indícios da biografia de Antoine também endossam este ponto
de vista e dos quais poderíamos falar em uma futura postagem….
Mas lendo e relendo esta obra não posso deixar
de me perguntar se de fato, literalmente, se ele não teve uma experiência mais
concreta com o pequeno príncipe? Será que ele existiu? Nem é preciso dizer que
para um artista, escritor ou poeta, seus personagens são muito, muito reais e
existem de fato! E o mesmo vale para os
seus leitores e os admiradores daquele artista. Vá dizer para um genial pintor
que as imagens que ele traz para a terra não passam de ilusão? Diria ao
escultor que sua obra é um nada, apenas um pedaço de pedra ? Experimente dizer
para um fã de mangás ou de animes que seus personagens tão amados ou idolatrado
não existem e portanto não merecem a devida importância...
O mundo da verdadeira arte é um mundo
subjetivo e não objetivo. É antes um
mundo de significados interiores e não de formas materiais! Vale dizer então, por outras
palavras, é um mundo que funciona na dinâmica do sentimentos: aquilo existe, é
real, se emociona, comove, inspira, enleva e enaltece… Arte…
E cabe acrescentar algo aqui: o olhar do
verdadeiro artista é o mesmo olhar das crianças, um olhar repleto de
DESLUMBRAMENTO... O Artista, como a criança, olha o mundo com encanto sempre
renovado, observa um mundo como um lugar cheia de novidades e beleza oculta
para retratar, é um parque de diversões que sempre esconde algo novo, uma nova
luz para pintar, uma nova forma para esculpir, uma nova curva para desenhar, ou
uma nova história para contar...
O olhar do artista é vivo, como das crianças,
que enxergam em tudo uma brincadeira em potencial cheio de novidades incessantes, tal como os artistas enxergam sempre uma arte
em potencial… Como anda este seu olhar? O que faz seus olhos brilharem? O mundo ainda consegue lhe encantar? Consegue
focar sua luz na beleza invés da feiúra do mundo? As paisagens ainda lhe
deslumbram? Existe algum lugar que só de ver você se alegra, ou que só de estar
ali você se sente com vontade de correr, se divertir e saltar?
Mas, poesia à parte, o que quero discutir agora
é o possível existência real mesmo -física- do pequeno príncipe... O tom que
Antoine usa aqui é quase de um desabafo, e o jeito triste, quase deprimido, com
que termina o capítulo. Tendo em vista a ode que este escritor sempre fez da
honestidade e dos sentimentos, não consigo admitir que ele usou destas frases
apenas como um recurso lírico para emocionar o leitor. Não, parece mesmo que
ele quer nos dizer algo sobre a existência, verdadeira e real, do pequeno
príncipe, como no trecho abaixo:
“Porque eu não gosto que leiam meu livro
levianamente. Dá-me tanta tristeza narrar essas lembranças! Faz já seis anos
que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui, é justamente
porque não o quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem
amigos. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se
interessam por números. Foi por causa disso que comprei uma caixa de tintas e
alguns lápis também…” e termina dizendo..” Julgava-me talvez semelhante a ele.
Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as
pessoas grandes. Acho que envelheci. “
Neste trecho então, Antoine retoma brevemente
o tema do primeiro capítulo e do qual falamos bastante em nossas primeiras
lições, ao enfatizar como a perda da imaginação infantil conduz a uma vida
adulta infeliz. Merece destaque entretanto no destaque que ele deu a expressão
artística de que falamos acima, quando menciona que comprou material para
desenhar o príncipe e assim não mais esquecê-lo. O mundo seria um lugar muito
mais belo se nós escutássemos nossos impulsos de expressão artística e não reprimíssemos tanto no nosso lado lúdico e
infantil como fomos ensinados a fazer, lado esse que se pudesse, encheria o
mundo de rabiscos e cores! Certa feita perguntaram a um Mestre o que deveria
ser feito quando estivéssemos nos sentindo apáticos ou tendo um dia ruim e ele
respondeu: “faça qualquer coisa que seja criativa. Não existe nada melhor para
afastar o desânimo e a tristeza do que
ativar, qualquer que seja o meio de expressão, o seu gênio criativo
adormecido…”
E foi isso que Antoine fez, para nosso deleite.
Tendo sido o principezinho real ou não, seja ele, uma figura que surgiu
espontaneamente de dentro da sua alma como, talvez indicariam alguns trechos de
sua biografia ( e dos quais poderemos falar futuramente se os leitores
quiserem), ou tenha sido ele um Ser real que Antoine encontrou em sua
experiência verídica quando caiu no deserto, o fato é que pela graça de Antoine
escutar seu lado artístico e de corajosamente arriscar desenhar e escrever pra
gente esta história, o mundo se tornou um lugar mais belo, a literatura ganhou
um jóia inesquecível, e, Podemos
responder então ao espírito de Antoine, que disse no trecho acima ser muito
triste esquecer um amigo, e iremos
acalmá-lo dizendo, que seu pequeno amigo agora é imortal pois estará para
sempre em nossos corações...
Fim da Lição 4 -
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Em breve publicaremos aqui a Lição 5, fique atento e siga nossa página do facebook
Por Daniel Antoine Jaoude
contato: danieljaoude@hotmail.com
https://www.facebook.com/Ensinamentos.do.Pequeno.Principe/
Se eu gostei?
ResponderExcluirAdorei!!
Realmente, um privilégio alguém se imortalizar , como Exupéry, através de um livro rico (de alma) como este.
Um amigo imortal que temos obrigação de apresentar às novas gerações.
Muito obrigado novamente Heliane! Sua participação é sempre um incentivo pra gente! :)
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