segunda-feira, 14 de setembro de 2020

LIÇÃO 4 - Parte Final




Parte 3: O deslumbre no olhar e a essência da arte

 

Ainda sobre o tema da existência, poderíamos encerrar esta lição falando do angustiado tom que usa Antoine para encerrar este capítulo, e a sua tristeza apelando aos leitores que  dêem a devida atenção ao seu livro e sua narrativa, e apelando para que acreditem em sua história e tenhamos a mentalidade inocente das crianças e não dos adultos que só crêem em números:

“É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes. Mas nós, nós que compreendemos a vida, nós não ligamos aos números! Gostaria de ter começado esta história à moda dos contos de fada. Teria gostado de dizer: "Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta pouco maior que ele, e que tinha necessidade de um amigo..." Para aqueles que compreendem a vida, isto pareceria sem dúvida muito mais verdadeiro. “

 

Como explicar o apelo triste de Antoine neste trecho acima, sem trazermos de novo à baila a questão da real existência do pequeno príncipe? É tentado dizermos que é uma obra de ficção infantil, uma fábula apenas, e os indícios da biografia de Antoine também endossam este ponto de vista e dos quais poderíamos falar em uma futura postagem….

Mas lendo e relendo esta obra não posso deixar de me perguntar se de fato, literalmente, se ele não teve uma experiência mais concreta com o pequeno príncipe? Será que ele existiu? Nem é preciso dizer que para um artista, escritor ou poeta, seus personagens são muito, muito reais e existem de fato! E  o mesmo vale para os seus leitores e os admiradores daquele artista. Vá dizer para um genial pintor que as imagens que ele traz para a terra não passam de ilusão? Diria ao escultor que sua obra é um nada, apenas um pedaço de pedra ? Experimente dizer para um fã de mangás ou de animes que seus personagens tão amados ou idolatrado não existem e portanto não merecem a devida importância...

 

O mundo da verdadeira arte é um mundo subjetivo e não objetivo. É antes  um mundo de significados interiores e não de formas  materiais! Vale dizer então, por outras palavras, é um mundo que funciona na dinâmica do sentimentos: aquilo existe, é real, se emociona, comove, inspira, enleva e enaltece… Arte…

 

E cabe acrescentar algo aqui: o olhar do verdadeiro artista é o mesmo olhar das crianças, um olhar repleto de DESLUMBRAMENTO... O Artista, como a criança, olha o mundo com encanto sempre renovado, observa um mundo como um lugar cheia de novidades e beleza oculta para retratar, é um parque de diversões que sempre esconde algo novo, uma nova luz para pintar, uma nova forma para esculpir, uma nova curva para desenhar, ou uma nova história para contar...

 

O olhar do artista é vivo, como das crianças, que enxergam em tudo uma brincadeira em potencial cheio de novidades incessantes,  tal como os artistas enxergam sempre uma arte em potencial… Como anda este seu olhar? O que faz seus olhos brilharem?  O mundo ainda consegue lhe encantar? Consegue focar sua luz na beleza invés da feiúra do mundo? As paisagens ainda lhe deslumbram? Existe algum lugar que só de ver você se alegra, ou que só de estar ali você se sente com vontade de correr, se divertir e saltar?

 

Mas, poesia à parte, o que quero discutir agora é o possível existência real mesmo -física- do pequeno príncipe... O tom que Antoine usa aqui é quase de um desabafo, e o jeito triste, quase deprimido, com que termina o capítulo. Tendo em vista a ode que este escritor sempre fez da honestidade e dos sentimentos, não consigo admitir que ele usou destas frases apenas como um recurso lírico para emocionar o leitor. Não, parece mesmo que ele quer nos dizer algo sobre a existência, verdadeira e real, do pequeno príncipe, como no trecho abaixo:

 

“Porque eu não gosto que leiam meu livro levianamente. Dá-me tanta tristeza narrar essas lembranças! Faz já seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui, é justamente porque não o quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigos. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números. Foi por causa disso que comprei uma caixa de tintas e alguns lápis também…” e termina dizendo..” Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci. “

 

Neste trecho então, Antoine retoma brevemente o tema do primeiro capítulo e do qual falamos bastante em nossas primeiras lições, ao enfatizar como a perda da imaginação infantil conduz a uma vida adulta infeliz. Merece destaque entretanto no destaque que ele deu a expressão artística de que falamos acima, quando menciona que comprou material para desenhar o príncipe e assim não mais esquecê-lo. O mundo seria um lugar muito mais belo se nós escutássemos nossos impulsos de expressão artística e não  reprimíssemos tanto no nosso lado lúdico e infantil como fomos ensinados a fazer, lado esse que se pudesse, encheria o mundo de rabiscos e cores! Certa feita perguntaram a um Mestre o que deveria ser feito quando estivéssemos nos sentindo apáticos ou tendo um dia ruim e ele respondeu: “faça qualquer coisa que seja criativa. Não existe nada melhor para afastar o desânimo  e a tristeza do que ativar, qualquer que seja o meio de expressão, o seu gênio criativo adormecido…”

 

E foi isso que Antoine fez, para nosso deleite. Tendo sido o principezinho real ou não, seja ele, uma figura que surgiu espontaneamente de dentro da sua alma como, talvez indicariam alguns trechos de sua biografia ( e dos quais poderemos falar futuramente se os leitores quiserem), ou tenha sido ele um Ser real que Antoine encontrou em sua experiência verídica quando caiu no deserto, o fato é que pela graça de Antoine escutar seu lado artístico e de corajosamente arriscar desenhar e escrever pra gente esta história, o mundo se tornou um lugar mais belo, a literatura ganhou um jóia inesquecível,   e, Podemos responder então ao espírito de Antoine, que disse no trecho acima ser muito triste esquecer um amigo,  e iremos acalmá-lo dizendo, que seu pequeno amigo agora é imortal pois estará para sempre em nossos corações...

Fim da Lição 4 - 


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Por Daniel Antoine Jaoude
contato: danieljaoude@hotmail.com

https://www.facebook.com/Ensinamentos.do.Pequeno.Principe/

 


 

2 comentários:

  1. Se eu gostei?
    Adorei!!
    Realmente, um privilégio alguém se imortalizar , como Exupéry, através de um livro rico (de alma) como este.
    Um amigo imortal que temos obrigação de apresentar às novas gerações.

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    Respostas
    1. Muito obrigado novamente Heliane! Sua participação é sempre um incentivo pra gente! :)

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