sábado, 12 de setembro de 2020

4ª LIÇÃO — PARTE 2:



SERÁ QUE ESCUTAREMOS A SUA RISADA?

 

No final da primeira parte postada na quinta, falamos brevemente sobre como a pandemia fez a gente refletir sobre o essencial que é invisível aos aos olhos, e retomando o assunto, questionamos:

E as pessoas essenciais que eram invisíveis? Quais destes invisíveis, no sentido de ignorados por nós, agora são de extremo valor? Afinal, são Aqueles trabalhadores mais humildes, ditos invisíveis, são justamente aqueles que nos mantém vivos hoje em dia…

Agora que temos o perigo real de perdermos alguém muito querido por nós, para doença, será que lhe daremos mais valor?

Deixaremos de prestar atenção e darmos curtidas vazias para a celebridade da internet e passamos a valorizar aquela pessoa que está aqui, agora mesmo, do nosso lado? Percebemos finalmente que não importa a quantidades de curtidas ou de seguidores se a elas nós não cativarmos? (a famosa frase do livro, “cativa-me”…)

Afinal, quantos “seguidores” tinha o Pequeno Príncipe? Apenas um, a raposa, ou talvez dois, se contarmos o próprio Antoine… Afinal, o pequeno príncipe nos ensina que mais vale um único “seguidor” cativo do que milhões de falsos amigos, que apenas se reduzem a números estéreis seguidos da letra K (fulano tem 50k de amigos e seguidores)… É óbvio: A pergunta não é quantos são seus amigos, e sim: quantos você realmente cativou, criou laços de coração?

Quantos você atingiu a alma?

Quantos deles são dignos da frase, “… serei para ti a única no mundo, e tú serás para mim o único no mundo…"

Vou para por aqui, pois este trecho é tema de outro capítulo do livro, e será provavelmente o mais importante de nossas lições, pois como já falei em outros lugares, esta parte do livro que envolve as relações de afeto do pequeno príncipe será tratada com destaque mas no momento oportuno. Mas como o tema da essencialidade e da amizade é o fio condutor de toda obra, estamos sempre esbarrando com ele de uma ou outra maneira… Mas por ora, voltemos ao capítulo 4:

“A prova de que o principezinho existia é que ele era encantador, que ele ria, e que ele queria um carneiro…

Aqui, somo ainda apresentados a uma frase curtíssima mas cheia de significados quase metafísicos. Antoine diz que a maior prova de que o príncipe existia era que “ele ria…” ah, que belo! É Tão pungente a beleza deste trecho que tenho dificuldades para traduzir os significados que vejo nele! Ele existia apenas porque RIA! Antoine aqui nos brinda com uma pérola filosófica, ao nos induzir despropositadamente ao fato de que é o riso, e portanto, a alegria, o marco da nossa existência! Só existe porque ri! Só vive porque está alegre! E ao contrário, Se não ri, não vive, aquele que só lamúrias alimenta, já não existe, e sim vegeta…

Portanto, agora reveja seus afetos, refunde seus amores, resgate suas relações, olhe para quem está perto, valorize quem sempre esteve ali do seu lado, que viu sua luz mesmo quando você estava em profunda escuridão, ou ainda resgate o amor com aqueles que ausentes a mostraram como lhe fazem falta, valorize as risadas daqueles que você ama e daqueles que lhe amam…

Num momento triste como estes de pandemia e milhares de famílias separadas pela morte, perceba como você é sortudo, realmente abençoado, de estar aí presenciando as gargalhadas daqueles que você ama, e é naquele momento sagrado, onde seu riso, sua alegria, que ela lhe indica, magicamente, como é bom existir, ESTAR VIVO, e VIVER AO SEU LADO… Portanto, seja grato pela vida, e repetindo o trecho mais bonito deste capitulo 4 do livro, será que daremos valor a voz desta pessoa que está hoje ao nosso lado? Valorizaremos seu toque, seu cheiro? Seu abraço, sua presença?

“Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?"

A PAIXÃO DE VIVER…

E ele queria um carneiro:

“… Quando alguém quer um carneiro, é porque existe”…

Da alegria e do riso se extrai por consequência evidente o desejo: se estamos alegres, joviais e risonhos nós estamos vivos, se estamos vivos é porque desejamos… De Platão a Jung, passando por Nietzsche e Freud, a relação direta entre desejar e estar vivo já foi descrita em verso e prosa e não há necessidade de nós também irmos nessa direção. Basta dizer que o desejo, o querer, é este ‘pathos’, que mobiliza a existência.

O contrário destes “pathos” é o apathos, ou apatia, o estado de desalento onde não nos sentimos vivos, de nada rimos e portanto nada mais desejamos… Como qualquer criança, o nosso pequeno príncipe era encantador, era, alegre, ria, e tinha desejos urgentes que tinha que ser satisfeitos imediatamente, caso contrário sua vida parava até consegui-lo: “Me desenhe um carneiro!”

Então, se em nossa vida de gente grande já não encontramos alegria e riso, e portanto perdemos o rumo de nossa existência, talvez caiba perguntar a nossa criança interior qual desejo urgente que lhe foi negado, o que lhe falta neste instante?

Onde se perdeu aquela coisa apaixonada que você ansiava instantaneamente para se sentir vivo e alegre, como uma criança?

Quem lhe negou o desenho do seu carneiro?

A quem você pode pedi-lo hoje?




Por Daniel Antoine Jaoude

contato: danieljaoude@hotmail.com

**Não deixe de ler a introdução e a 
parte 1 deste capítulo publicadas anteontem. Na segunda publicaremos a terceira é última parte desta lição 4. Até lá! ;)

 

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