SERÁ QUE ESCUTAREMOS A SUA RISADA?
No final da primeira
parte postada na quinta, falamos brevemente sobre como a pandemia fez a gente
refletir sobre o essencial que é invisível aos aos olhos, e retomando o
assunto, questionamos:
E as pessoas
essenciais que eram invisíveis? Quais destes invisíveis, no sentido de
ignorados por nós, agora são de extremo valor? Afinal, são Aqueles
trabalhadores mais humildes, ditos invisíveis, são justamente aqueles que nos
mantém vivos hoje em dia…
Agora que temos o
perigo real de perdermos alguém muito querido por nós, para doença, será que
lhe daremos mais valor?
Deixaremos de prestar
atenção e darmos curtidas vazias para a celebridade da internet e passamos a
valorizar aquela pessoa que está aqui, agora mesmo, do nosso lado? Percebemos
finalmente que não importa a quantidades de curtidas ou de seguidores se a elas
nós não cativarmos? (a famosa frase do livro, “cativa-me”…)
Afinal, quantos “seguidores”
tinha o Pequeno Príncipe? Apenas um, a raposa, ou talvez dois, se contarmos o
próprio Antoine… Afinal, o pequeno príncipe nos ensina que mais vale um único
“seguidor” cativo do que milhões de falsos amigos, que apenas se reduzem a
números estéreis seguidos da letra K (fulano tem 50k de amigos e seguidores)… É
óbvio: A pergunta não é quantos são seus amigos, e sim: quantos você realmente
cativou, criou laços de coração?
Quantos você atingiu a
alma?
Quantos deles são
dignos da frase, “… serei para ti a única
no mundo, e tú serás para mim o único no mundo…"
Vou para por aqui, pois este trecho é tema de outro capítulo do livro, e será provavelmente o mais importante de nossas lições, pois como já falei em outros lugares, esta parte do livro que envolve as relações de afeto do pequeno príncipe será tratada com destaque mas no momento oportuno. Mas como o tema da essencialidade e da amizade é o fio condutor de toda obra, estamos sempre esbarrando com ele de uma ou outra maneira… Mas por ora, voltemos ao capítulo 4:
“A prova de que o principezinho existia é que ele era encantador, que ele ria, e que ele queria um carneiro…
Aqui, somo ainda
apresentados a uma frase curtíssima mas cheia de significados quase
metafísicos. Antoine diz que a maior prova de que o príncipe existia era que
“ele ria…” ah, que belo! É Tão pungente a beleza deste trecho que tenho
dificuldades para traduzir os significados que vejo nele! Ele existia apenas
porque RIA! Antoine aqui nos brinda com uma pérola filosófica, ao nos induzir
despropositadamente ao fato de que é o riso, e portanto, a alegria, o marco da
nossa existência! Só existe porque ri! Só vive porque está alegre! E ao
contrário, Se não ri, não vive, aquele que só lamúrias alimenta, já não existe,
e sim vegeta…
Portanto, agora reveja
seus afetos, refunde seus amores, resgate suas relações, olhe para quem está
perto, valorize quem sempre esteve ali do seu lado, que viu sua luz mesmo
quando você estava em profunda escuridão, ou ainda resgate o amor com aqueles
que ausentes a mostraram como lhe fazem falta, valorize as risadas daqueles que
você ama e daqueles que lhe amam…
Num momento triste
como estes de pandemia e milhares de famílias separadas pela morte, perceba
como você é sortudo, realmente abençoado, de estar aí presenciando as
gargalhadas daqueles que você ama, e é naquele momento sagrado, onde seu riso,
sua alegria, que ela lhe indica, magicamente, como é bom existir, ESTAR VIVO, e
VIVER AO SEU LADO… Portanto, seja grato pela vida, e repetindo o trecho mais
bonito deste capitulo 4 do livro, será que daremos valor a voz desta pessoa que
está hoje ao nosso lado? Valorizaremos seu toque, seu cheiro? Seu abraço, sua
presença?
“Qual é o som da sua
voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?"
A PAIXÃO DE VIVER…
E ele queria um
carneiro:
“… Quando alguém quer
um carneiro, é porque existe”…
Da alegria e do riso
se extrai por consequência evidente o desejo: se estamos alegres, joviais e
risonhos nós estamos vivos, se estamos vivos é porque desejamos… De Platão a
Jung, passando por Nietzsche e Freud, a relação direta entre desejar e estar
vivo já foi descrita em verso e prosa e não há necessidade de nós também irmos
nessa direção. Basta dizer que o desejo, o querer, é este ‘pathos’, que
mobiliza a existência.
O contrário destes
“pathos” é o apathos, ou apatia, o estado de desalento onde não nos sentimos
vivos, de nada rimos e portanto nada mais desejamos… Como qualquer criança, o
nosso pequeno príncipe era encantador, era, alegre, ria, e tinha desejos
urgentes que tinha que ser satisfeitos imediatamente, caso contrário sua vida
parava até consegui-lo: “Me desenhe um carneiro!”
Então, se em nossa
vida de gente grande já não encontramos alegria e riso, e portanto perdemos o
rumo de nossa existência, talvez caiba perguntar a nossa criança interior qual
desejo urgente que lhe foi negado, o que lhe falta neste instante?
Onde se perdeu aquela
coisa apaixonada que você ansiava instantaneamente para se sentir vivo e
alegre, como uma criança?
Quem lhe negou o
desenho do seu carneiro?
A quem você pode pedi-lo hoje?
Por Daniel Antoine Jaoude
contato: danieljaoude@hotmail.com
**Não deixe de ler a introdução e a parte 1 deste capítulo publicadas anteontem. Na segunda publicaremos a terceira é última parte desta lição 4. Até lá! ;)
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