Em seguida neste capitulo, o autor começa a insistir na grande
questão das origens, e começa a indagar sobre a origem do pequeno
príncipe passando a tentar elaborar o tema dos "outros planetas". Esta é
uma questão psicologia que também é bem rica, versando a respeito dos
outros níves da realidade, ou seja, os aspectos profundos de nossa mente
que nos remetem a lugares mágicos, fabulosos ou encantados... Como
essaa questão dos planetas é tema principal do autor no próximo
capitulo, vou terminar esta terceira lição fazendo a analise do pequeno
dialogo a respeito do carneirinho que encerra este capitulo, e que
traduz um dos mais importantes ensinamentos do pequeno príncipe, e que
será repassado varias vezes ao longo de todo o texto. O trecho é o
seguinte:
"Mergulhou então num pensamento que durou muito tempo. Depois, tirando do
bolso o meu carneiro, ficou contemplando o seu tesouro.
Poderão imaginar que eu ficara intrigado com aquela semiconfidência sobre "os
outros planetas". Esforcei-me, então, por saber mais um pouco.
— De onde vens, meu bem? Onde é tua casa? Para onde queres levar meu
carneiro?
Ficou meditando em silêncio, e respondeu depois:
O bom é que a caixa que me deste poderá, de noite, servir de casa.
— Sem dúvida. E se tu fores bonzinho, darei também uma corda para amarrá-lo
durante o dia. E uma estaca.
A proposta pareceu chocá-lo:
Amarrar? Que idéia esquisita
— Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde...
E meu amigo deu uma nova risada:
— Mas onde queres que ele vá?
— Não sei ... Por aí ... Andando sempre para frente.
Então o principezinho observou, muito sério:
— Não faz mal, é tão pequeno onde moro !
E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda:
— Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe ..."
Depois
de ignorar a indagação do piloto, de forma tão típica como faz uma
criança conforme já falamos, o Pequeno Príncipe começa a divagar a
respeito das muitas outras coisas que ele magicamente observa no desenho
que seu amigo lhe faz, e fica feliz em saber que seu precioso tesouro, o
carneirinho, estava protegido com a caixa...
Neste ponto, agora de uma maneira tipicamente adulta de agir, o piloto tenta por assim dizer "barganhar" com a criança, de modo a força-la a agir conforme lhe convém (vejam a frase "se fores um bom menino"...), e como recompensa, promete ao pequeno príncipe adicionar uma corda ao desenho do seu carneirinho.
Neste ponto, agora de uma maneira tipicamente adulta de agir, o piloto tenta por assim dizer "barganhar" com a criança, de modo a força-la a agir conforme lhe convém (vejam a frase "se fores um bom menino"...), e como recompensa, promete ao pequeno príncipe adicionar uma corda ao desenho do seu carneirinho.
O
nosso herói não apenas ignora a tentativa de barganha como aproveita
para deixar sutilmente uma preciosa lição, a respeito dos
relacionamentos em geral, quando visivelmente chocado, pergunta "Amarrar ele? Porque? Que ideia estranha!"
Na
mentalidade do pequeno príncipe, não faz o menor sentido amarrar o que
quer que seja, ainda mais um amigo ou alguém de quem gostamos, como ele
gosta do carneirinho. Mais adiante esta sua reflexão culminará na mais
valiosa lição que ele nos dará, a respeito do significado de cativar. Mas aqui, por ora, resta apenas a provocação: Por que ""amarrar""
alguém? Se eu gosto dele, se quero seu bem, quero protege-lo, e estou
feliz que tenha um abrigo numa caixa (meu coração?) porque irei desejar
prende-lo, de qualquer forma?
Que tipo de amor e este que
possui o que quer proteger? Que prende invés de libertar? Que loucura de
apego seria essa afinal? Estas me parecem claramente as reflexões que o
principezinho quer deixar ao seu amigo adulto...
Diante
desta reação inesperada do Pequeno Príncipe, o piloto tenta, em vão,
argumentar: "— Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde..."
A
isso responde o principezinho apenas como uma gargalhada, com o que
para informar ao ingênuo adulto que quando se gosta de algo, quando se
ama de verdade sem apego ou "amarras", ninguém se perde ou vai embora
pois aquele amor nos pertence para sempre, pelo nosso lado de dentro, e
não pode desaparecer...Estaria por assim dizer abrigado na "caixa" (o nosso coração)...
Mas
como o amigo adulto não podia compreender estas coisas tão simples da
arte de amar, o Pequeno Príncipe se esforçando para compreender lhe
pergunta, como se quisesse entender o motivo de tamanho medo de perder o
ser amado, a ponto de querer amarrá-lo:
— Mas onde queres que ele vá? ( ou qual é seu medo para deixar esta ser livre?)
Ao que o piloto de pronto respondeu:
— Não sei ... Por aí ... Andando sempre para frente.
Esta
resposta do piloto dá ensejo a outra reflexão concernente a este mundo
adulto tão cheio de si. Pois uma simples pergunta como esta, de "qual
seria seu medo em deixa-lo livre?" enseja uma resposta um tanto
perturbada e irrefletida: "Não sei...Por aí...Sempre em frente"...
Denotando claramente a atitude irracional que justificaria "amarrar" alguém, para que não pudesse "tomar seu rumo",
ou seja, seguir "sempre em frente" de maneira Livre, ao invés de preso
em algum lugar ou a alguém...Novamente uma ênfase sutil na questão do
"Ame e liberte", jamais "prenda e apegue"....
Não é difícil de imaginar como esta questão da liberdade seria importante para um apaixonado piloto de verdade, como era de fato Antoine de Saint Exuspéry. A liberdade de ir, vir, viver e amar não era apenas um ideal vazio mas sim a razão de sua existência, o motivo de sua vida como piloto, algo que fica ainda mais claro nas leituras de suas outras obras, como os livros "Terra dos Homens" ou "Piloto de Guerra" e outros...
Não é difícil de imaginar como esta questão da liberdade seria importante para um apaixonado piloto de verdade, como era de fato Antoine de Saint Exuspéry. A liberdade de ir, vir, viver e amar não era apenas um ideal vazio mas sim a razão de sua existência, o motivo de sua vida como piloto, algo que fica ainda mais claro nas leituras de suas outras obras, como os livros "Terra dos Homens" ou "Piloto de Guerra" e outros...
Mas
aqui, em sua obra-prima, ele fala especificamente de sentimentos, amor,
laços e amizade. E neste tom que devemos tentar encontrar o significado
de suas palavras. Aliás um importante ponto que deve ser destacado na
leitura do Pequeno Príncipe é que, ao meu ver, não existe nele nenhuma
frase vazia ou sem significado maior subjacente. Cada frase guarda um
segredo, uma possível interpretação, por ser uma espécie de confissão
íntima das angústias da alma de Antoine naquele momento, e que ele
dividiu aqui, poeticamente, conosco....Pensando desta forma então, a
última frase que analisamos do piloto (— Não sei ... Por aí ... Andando sempre para frente) se conjugada com o que o Príncipe diz em seguida, traz ainda uma outra significação um pouco mais crítica. Vejamos:
Então o principezinho observou, muito sério:
— Não faz mal, é tão pequeno onde moro !
E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda:
— Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe ...
Mas
antes de fazer esta sutil observação crítica, da qual falaremos, o
Príncipe destaca que toda estão questão da prender ou não o seu
carneirinho ( o ser amado) não faz sentido algum pois afinal seu planeta
é pequeno...
Esta ode ao pequeno, singelo e simples é uma verdadeira e profunda marca do autor, presente em todo o livro, conforme veremos ainda muitas vezes. Tudo do principezinho é diminuto, simples, delicado, pequeno... Como que para sinalizar que as grandes questões de trata a obra, o amor, laços, sentimentos e amigos, são questões que apenas aqueles que são simples, sensíveis e singelos como o principezinho poderão entender.... E deste modo então, ele não precisa prender o carneirinho, pois com seu amor ele sempre estará ali por perto, pois seu mundo (seu coração?) é simples, é singelo, só tem aquilo que é importante, ou seja, é pequeno....
Esta ode ao pequeno, singelo e simples é uma verdadeira e profunda marca do autor, presente em todo o livro, conforme veremos ainda muitas vezes. Tudo do principezinho é diminuto, simples, delicado, pequeno... Como que para sinalizar que as grandes questões de trata a obra, o amor, laços, sentimentos e amigos, são questões que apenas aqueles que são simples, sensíveis e singelos como o principezinho poderão entender.... E deste modo então, ele não precisa prender o carneirinho, pois com seu amor ele sempre estará ali por perto, pois seu mundo (seu coração?) é simples, é singelo, só tem aquilo que é importante, ou seja, é pequeno....
E
por fim, destacando a gravidade da sentença seguinte ao dizer que foi
dita com melancolia pelo Pequeno Príncipe, o autor dá voz a importante
critica de que falamos acima: — "Quando a gente anda sempre para frente,
não pode mesmo ir longe ..."
O significado desta
frase, por conta da melancolia com que é dita, deixa claro que se trata
de uma importante mensagem, uma critica ao modo adulto de pensar, que
valoriza não apenas o amarrar alguém, como também tem a pretensão de
achar que a única alternativa a estar preso é seguir sempre em frente, em linha reta, sem meios termos, sem idas e vindas, sem o colorido,
sem o sobe e desce natural da vida sentimental, mas unicamente a linha
reta, a rigidez de caminhos o seguir em frente, apenas em tons de
branco, preto e cinza, sem mesmo saber o porquê disso ( Lembremos o constrangimento do piloto ao dizer, " Não sei...Por aí...Sempre em frente...)
E
por que o principezinho fica triste e melancólico? Por que sabe que
aqueles que pensam deste modo unilateral e obtuso não experimentam a
verdadeira vida sentimental, não poderão ir longe mesmo, não
mergulharão profundamente no que tange aos assuntos do coração, com
seus inevitáveis solavancos, rupturas e reatamentos, brigas e
separações, tal como ele mesmo vive com sua amada rosa... Lembremos que a
melancolia é privilégios dos muitos sensíveis, apaixonados e
românticos, aqueles cujas almas são profundas e poéticas...Não tem melancolia que vive num coração raso...Para viver de verdade é preciso sair da linha reta, ousar, mudar, voltar, tergiversar, sofrer, voar....
Enfim,
é preciso ser mais criativo e corajoso nos assuntos do coração, ir e
vir muitas vezes para regar sua amada rosa. apenas para se machucar
novamente e tornar a partir de novo.... Não basta seguir em frente, é
preciso estar pronto a se aventurar por todo o universo para
tentar descobrir a resposta para os segredos do seu coração, tal como
ele mesmo o fez, ao pedir carona a sua carruagem de pássaros, e seguir
universo afora em busca das respostas para entender seu Amor pela
rosa... Por pensar nisto tudo é que ele, o princepezinho, estava triste e
melancólico, e enfim afirmou ao encerrar este capitulo: "Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe"...
Talvez quisesse dizer, Não vai a lugar algum aquele que não se arrisca a
sentir profundamente, se machucar, permitindo-se ser vulnerável às dores do coração...E isso só existe para aqueles que amam em liberdade, "sem amarrar" ou prender a nada ou ninguém...
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